domingo, 15 de maio de 2011

Verdade, o amor é mesmo cliché

Já alguém vos perguntou o que é o amor? A mim já. Ainda fiquei algum tempo de cabeça no ar e olhos no vazio. Agora, afirmo sem sombra de dúvida: o amor é um vício. Coeso e conciso.

Pois, mas como que raio é que sabemos se já estamos dependentes? Acho que depende das pessoas. Inicialmente, suponho que todos apanhemos um susto do caraças. Começamos a andar a mil por segundo e algo dentro de nós nos diz que aquele momento chegou. O friozinho no estômago deixa de ser coisa de filme, as músicas lamechas deixam de ser motivo para dizer umas piadas aos amigos… Enfim, ficamos apavorados, mas é tudo tão natural que a euforia começa a acalmar. E é exactamente quando acalma, depois do grande clímax e da dose extra de adrenalina, que sentimos o verdadeiro amor. O ritmo abranda, o mundo torna-se mais sóbrio e ainda assim somos felizes.

O amor é ter vontade de ficar nos braços de alguém dias a fio. É ter vontade de partir os relógios, rasgar os calendários e parar o tempo para ficar enrolado nos cobertores a ouvir a chuva lá fora. Ou, noutros casos, é sair de casa aos pulos e de mão dada, para deixar toda a gente invejosa do sentimento que nos une ao outro alguém. É querer sempre mais e nunca ter o suficiente. É dar-nos totalmente, é perder o sono numa ou noutra noite mais fria.

O amor é bonito. É ouvir a mesma piada umas mil e quinhentas vezes e rir com sinceridade, no final. É saber quanto tempo aquecer o leite no microondas e quanto açúcar colocar. É levar o pequeno-almoço à cama e fazer chazinho com mel e limão nos dias de febre e nariz entupido. É sentir aquele instinto protector e aquele pico de adrenalina se alguém vai contra o bem-estar do nosso amor. É um “gosto muito de ti” sussurrado no meio de uma multidão em alvoroço! É ver o mundo à nossa volta e pensar “é por isto que gosto tanto de ti”.
O amor é traduzido de forma bastante elementar. Pode ser um coração mal desenhado numa folha de papel, ou uma música com três acordes. Pode ser oferecer chocolates ou flores e fazer beicinho. De qualquer das formas, é a linguagem universal dos apaixonados que se entendem sem dificuldade, numa confusão simples e irracional.

O amor é querer a felicidade de alguém acima de tudo o resto. É não ter vergonha do “pneuzinho” a mais, da celulite, ou da barriga de cerveja. É o cabelo despenteado e as roupas espelhadas pelo chão do quarto, igualzinho ao que se vê na televisão. É ficar de olhos abertos no chão da sala, até de manhã, só para ver o nascer do sol. É verdade, o amor é mesmo um cliché!
O amor é um abraço no meio da rua e um escondido beijo intenso na intimidade. É uma conversa de café sobre filmes, música e meteorologia… É ouvir com toda atenção uma opinião com a qual discordamos completamente. Às vezes, é subjugarmos a nossa própria opinião às ideias de outra pessoa. É trairmo-nos a nós próprios. E isto é uma péssima atitude, mas acontece quando gostamos verdadeiramente.

O amor pode ser extremamente estúpido. Às vezes consegue desenterrar a pior parte de nós, num grito de fúria – “Deixa-me em paz! Quero ficar sozinho!” – ou numa cena de ciúmes – “Quem era aquele com quem estavas a conversar?!”. É odiar-nos por uns momentos. É dizer coisas que nos arrependemos cinco minutos mais tarde. É verdade, apaixonados conseguimos ser a versão mais vergonhosa de nós mesmos. Mas, no fundo, amor é importarmo-nos o suficiente para nos darmos ao trabalho de discutir. É roubar um beijo, levar uma valente palmada e esperar impacientemente pela reconciliação.

O amor não é algo garantido. Se nos abandona, sentamo-nos num canto qualquer com uma garrafa de Tequilla e um balde de lágrimas. Ficamos horas, dias, semanas ou até meses a pensar na quantidade de coisas boas que nos aconteceram, mas ficaram perdidas numa recordação fosca que eventualmente acabará por desvanecer para sempre. Um dia atingimos a indiferença que, na verdade, é o verdadeiro antónimo de amor. Mas, afinal, quantos amores existem?